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Paulo Victor e Kayke falam de cuidado especial com luvas e caneleiras

Goleiro e atacante garantem: "não é superstição"

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O futebol reserva muitas histórias curiosas que por vezes não são contadas. Os torcedores estão acostumados a assistir seus ídolos durante noventa minutos, e não imaginam tudo que envolve a preparação deles para estarem ali dando a vida pelo clube. Para os atletas, não se resume a entrar em campo. É preciso carregar consigo uma crença, um utensílio que concede sorte ou realizar um ritual antes do apito inicial. Faz parte do jogo.

Os roupeiros costumam ser as principais testemunhas destes bastidores da bola. Moisés trabalha no Mais Querido há 23 anos, passou por todas as categorias antes de chegar ao profissional, e, por isso, já presenciou de tudo um pouco. Atletas que usam sempre a mesma sunga nas partidas; a chuteira especial; o meião da sorte. No elenco atual, conta que há muitos destes casos, mas cita dois com uma mistura de carinho, admiração e respeito, pois envolve pessoas que viu iniciarem suas carreiras no clube.

Moisés: "Kayke usa as mesmas caneleiras desde o mirim"
Uma delas é Kayke. Moisés esteve nos primeiros treinos e jogos dele vestindo o Manto Sagrado, em 1998, no mirim. "Presunto", como é carinhosamente chamado pelo atacante, diz que é de praxe as categorias inferiores pegarem material dos atletas mais velhos, quando estes não querem mais, e repassar aos mais novos. Só não imaginava que, ao entregar um par de caneleiras ao Kayke, estaria ajudando a iniciar uma relação duradoura.

"As caneleiras eram mais usadas nos juniores. E as dele vieram por este processo, não queriam mais e repassaram. Chegaram até a gente, demos para ele, que gostou. Aí marquei com o nome dele. Agora, quando retornou ao clube, fiquei até surpreso em ver que está com elas até hoje. E faz questão de deixar dentro da rouparia para não desgastá-las. É o amuleto dele (risos)", divertiu-se. Sobre o apelido, explicou. "Ele me chama assim desde a época do juvenil. Todo mundo chamava o outro de 'presunto', de brincadeira. Eu mesmo chamava ele assim também (risos). Marcou, ficou até hoje e ele brinca comigo. Conheço o Kayke desde o mirim, fui o primeiro roupeiro dele".

O camisa 27 afirma que só se deu conta de que estava com as caneleiras por tanto tempo quando chegou ao profissional. Mais de 15 anos depois, garante que continuam sendo muito úteis e que nunca o deixaram na mão. No entanto, também sabe que não tem como escapar das brincadeiras dos colegas.

"Até demorei para perceber esta curiosidade (das caneleiras). Comecei com elas no mirim, aqui no Flamengo. E foi o Moisés quem me deu, que hoje é nosso roupeiro no profissional, coincidentemente. Trabalhamos juntos por muitos anos. Eu me dei conta que elas ainda estavam comigo quando eu já estava no profissional. Aí eu pensei 'já que ainda estão comigo...' Não era uma coisa que levava como superstição antes dos jogos. Vou fazer de tudo para que durem o máximo de tempo. O pessoal tira sarro, porque elas não estão nas melhores condições (risos). Eu tento fazer o máximo para cuidar. Não gosto nem de treinar com elas para preservar e terem durabilidade maior. Treino com outras, inclusive", disse Kayke.

A respeito do retorno ao clube, não esconde a felicidade por reencontrar amigos que foram fundamentais no seu crescimento pessoal e profissional. "Essa minha volta tem sido muito boa, estou muito feliz em reencontrar muitas pessoas, como o Valtinho (Valteriano), Jorginho (Jorge), Russo (Esmar), Moisés, Baratinha (Cláudio), Clebinho (Cleber). É bacana, porque a galera do staff é a mesma de quando comecei. Conviver com essas pessoas é muito gratificante", elogiou.

Paulo Victor muda par de luvas com frequência
O titular do gol rubro-negro também tem seu ritual de preparação. Todo jogo ou, no máximo, a cada dois jogos, abre um par de luvas novas. Antes de ir a campo, porém, usa-as nos treinos com objetivo de testa-las. De acordo com Paulo Victor, elas chegam com bastante conservante para que a palma esteja boa, e que o hábito é importante para sentir o máximo de segurança possível durante a partida. Essa mudança frequente foi acordada com o patrocinador pessoal, a fim de que possa sempre estar com luvas boas, feitas sob medida, e que melhore cada vez mais a performance individual. E também para ajudar a perpetuar um gesto nobre.

"O pessoal que cuida do nosso material até sabe, o Clebinho, o Baratinha e o Moisés. Não é superstição nenhuma. E após o jogo, uso bastante no treino e depois abasteço a rapaziada da base, porque outros goleiros já fizeram isso por mim também. E que possam, mais à frente, continuarem fazendo com os mais novos", ensinou. Moisés faz questão de reconhecer as qualidades do atleta cuja carreira acompanha de perto há 11 anos. Elogios e torcida para que continue por muitos anos no clube, não faltam. "É um lutador, guerreiro, já passou por muita situação difícil, mas hoje vemos quem é o Paulo Victor. Deu a volta por cima, correu atrás. É muito dedicado com tudo. Está até hoje com a gente aí, graças a Deus", comemorou.

Com a humildade costumeira, Paulo Victor reconhece a importância dos roupeiros na rotina do CT e retribui cada palavra de carinho.

"Tenho amizade com todos os roupeiros nestes 10 anos de profissional. Quando cheguei ao clube, ainda na base, tinha o Moisés e o Baratinha. É gostoso ser querido por essas pessoas. Vemos a felicidade deles com as nossas conquistas profissionais. Procuro sempre estar junto, naquelas brincadeiras internas que sempre existem, com essa alegria que trazem para a gente. Ficamos felizes pelo carinho que eles têm pelo material, e com certeza o futebol não é só as pessoas dentro de campo. Essas outras pessoas fazem com que tudo esteja de acordo: as chuteiras em boas condições, as camisas. Eles limpam minha luvas, sabem que não gosto que passe nenhum produto, que não sequem no sol. Sabem de tudo que a gente gosta e fazem da melhor maneira possível para deixarem o atleta sempre bem para a partida".

Moisés: 'cada um com seu xodó'

Desde o início dos anos de 1990 no Flamengo, Moisés viu algumas promessas vingarem, e outras, ficarem pelo caminho, mas as histórias, ainda bem, nunca têm fim. E as conta com gosto. Como disse o goleiro do Mais Querido, pessoas como Moisés são essenciais para o futebol andar. E enriquecer as resenhas.

"Cada um tem seu zelo, seu xodó, seu amuleto. Vida que segue (risos)!", concluiu Moisés.