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Bolivianos também se queixam da altitude

Médico boliviano sugere mudança na regraLancenete

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Times querem que campeonato nacional tenha um grupo só com as cidades mais altas

Bernardo Ferreira

San Jose, que está na Libertadores, atua a 3.700m de altitude

Os bolivianos costumam ser os maiores beneficiados de partidas na altitude, graças às cidades localizadas acima de 3.500m. Isso gera protestos de brasileiros, argentinos, uruguaios... e dos próprios bolivianos.

Ao mesmo tempo em que luta junto à Fifa para acabar com a proibição de partidas acima de 2.750m, o país se divide - discretamente, é verdade - em relação ao tema.

Alguns times reclamam de jogar nas alturas, por isso já sugeriram que o Campeonato Boliviano seja dividido em dois grupos. No primeiro, estariam as equipes das cidades mais altas: La Paz (3.600m), Oruro (3.700m) e Potosí (3.960m). No segundo, ficariam as cidades de altitudes mais baixas - para os padrões bolivianos, já que Sucre, por exemplo, está a 2.800m. Assim, as viagens a lugares mais altos só seriam inevitáveis numa fase final.

Para a Libertadores de 2008, estão classificados times exatamente das cidades mais altas do país: La Paz FC, Real Potosí e San Jose (de Oruro).

La Paz, prejudicial à seleção

Também se discute na Bolívia se a seleção deve continuar atuando em La Paz, onde não conseguiu bons resultados nas últimas Eliminatórias. Na atual, ficou no empate em 0 a 0 com a Colômbia.

- Santa Cruz quer ser sede das Eliminatórias, pois jogar em La Paz não tem sido bom para a seleção. Muitos jogadores saem do nível do mar e não se adaptam à altitude. Ou seja, jogamos como visitantes - afirma o jornalista Gery Zurita, do jornal "Deber", de Santa Cruz.

Ele acrescenta que, apesar dessa divisão interna, nenhum boliviano se posiciona contrário ao direito de receber jogos na altitude. Acima de tudo, como gosta de citar o presidente Evo Morales, está a universalidade do futebol.

Médico boliviano sugere mudança na regra

Especialista em altitude diz que futebol atual precisa de cinco ou sete substituições

Bernardo Ferreira Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro

O médico Jorge Flores trabalhou de 1992 a 2002 na Federação Boliviana, à frente da comissão médica. Nesse período, fez uma pesquisa estatística envolvendo 2.749 partidas disputadas no país entre 1977 e 1995, para avaliar os efeitos da altitude no jogador, e foi à Fifa para defender o futebol nas alturas.

Hoje em dia, o boliviano de 67 anos, formado no Brasil, mantém sua opinião de que há queda de rendimento mas de que não existe risco de morte para um jogador na altitude. Ele levanta a bandeira da universalidade do futebol, como a maioria dos seus compatriotas, mas critica a maneira radical como a federação e o presidente Evo Morales defendem seus pontos de vista.

É justo a Fifa proibir jogos em altitudes acima de 2.750m?\ A alta altitude pode afetar a saúde, sim, como também pode acontecer na baixa altitude. Nunca aconteceu uma morte na altitude. É possível que morra um jogador se houver mais partidas na altitude, da mesma forma que morrem jogadores ao nível do mar.\

Mas não há vantagem para os times que jogam na altitude?\ Sim, existe queda de rendimento para quem não está acostumado à altitude, e os próprios clubes bolivianos vivem esse problema. Segundo um estudo que fizemos, a altitude diminui em 25% o rendimento esportivo. Para a Fifa, diminui em 30%. Isso faz aumentarem as chances de o time visitante levar gol nos últimos 30 minutos. Por isso, proponho que sejam feitas cinco substituições por jogo, e não três.\

Essa regra valeria apenas para os jogos na altitude?\ As cinco substituições deveriam ser usadas no mundo inteiro, porque estão morrendo muitos jogadores por problemas cardíacos. Atualmente, existe o perigo de um jogador cansado continuar em campo por já terem sido feitas as três substituições. O futebol hoje é muito mais físico, e os jogadores se cansam mais rapidamente. O ideal mesmo é que fossem sete substituições. Ou que as substituições pudessem ser feitas a qualquer momento, como no basquete.\

Não seria uma medida radical para a Fifa?\ Dou apenas a minha opinião médica. Cabe aos executivos do futebol adotarem ou não as medidas. Mas a International Board já mudou de opinião em 1968, quando passou a aceitar as substituições no futebol.\

O senhor já apresentou essa proposta à Federação Boliviana?\ Sim, mas não querem torná-la pública. A federação prefere defender que o futebol continue do jeito que é, em vez de buscar um ponto de equilíbrio e pensar na saúde do jogador. É importante que o resultado seja uma conseqüência do jogo e que não dependa de vantagens extra-esportivas.\

Que mensagem você mandaria ao Flamengo, que tenta junto à Fifa proibir jogos acima de 2.750m na Libertadores?\ Eu diria que há que se buscar compensações para os times que jogam na altitude, mas mantendo a universalidade do futebol. Não se pode tirar o futebol de algumas cidades. Se o Flamengo for a Potosí e fizer sete substituições, não sentirá nada e ganhará o jogo.\