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Pelo bem do espetáculo e dos clubes

Texto publicado na Folha de São Paulo em 22/ago/2009

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O Brasil deve adaptar o calendário do futebol nacional ao calendário do futebol europeu?

SIM

DELAIR DUMBROSCK\ O PRESIDENTE Lula acertou mais uma vez ao levantar a discussão sobre possíveis alterações no calendário do futebol brasileiro. É fundamental quebrar os antigos tabus e adotar medidas capazes de melhorar nosso espetáculo e maximizar as receitas dos clubes. \ A cada temporada assistimos a um verdadeiro desmanche das nossas equipes, alterando significativamente o equilíbrio de competições em pleno andamento. Isso desestimula o torcedor e desvaloriza o campeonato, além de não representar incremento de receitas semelhante ao que se poderia gerar caso o calendário permitisse aos clubes desenvolver ações capazes de gerar novas receitas. \

É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o campeonato brasileiro nunca tinha sido disputado com o mesmo formato por dois anos seguidos, não havia mais de uma competição sul-americana e os estaduais foram substituídos por ligas regionais.

Ou seja, nosso calendário não possui sequer tradição forte o suficiente para refrear uma reflexão capaz de melhorar o desempenho desportivo e econômico do futebol brasileiro.

A adequação às datas europeias significa o alinhamento dos mercados produtor e consumidor.

Sem dúvida, não representa barreira ao êxodo de nossos atletas, mas diminuirá sensivelmente o desmantelamento das equipes no meio das competições, o que será muito apreciado pelo torcedor brasileiro.

O calendário atual proporciona ainda um grande desequilíbrio financeiro ao obrigar que os grandes clubes brasileiros participem de competições sul-americanas pagando um alto custo de oportunidade.

Havendo uma mudança de calendário, com toda a certeza os nossos clubes estarão na Ásia, nos EUA e em outros mercados, realizando suas pré-temporadas com os times europeus e produzindo novas receitas, ou até mesmo promovendo torneios internacionais em nosso país.\ Recentemente, o Clube dos 13 criou um grupo de trabalho -formado por Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Vasco e Grêmio- para estudar formas de reestruturação social e financeira dos clubes brasileiros. \

É a primeira vez que se promove uma reflexão voluntária sobre a questão, e a conjuntura não poderia ser melhor, pois o esporte tem merecido a atenção de todos os setores do governo e da sociedade.

O grupo já começou a debater vários temas, como a governança corporativa dos clubes brasileiros, o adensamento da cadeia produtiva do futebol, o sistema de licenciamento implantado pela Uefa, a Copa de 2014 como catalisador do desenvolvimento do futebol no país e o calendário, que é um dos pontos mais relevantes, pois é a chave, direta ou indiretamente, de todas as receitas dos clubes de futebol. As competições são o produto principal, o carro-chefe de todas as atividades dos clubes.

É importante ressaltar que, embora a simples alteração do calendário não seja a solução para todos os problemas do futebol brasileiro, ela é, sem dúvida, um bom ponto de partida.

Por isso vemos com grande alegria e esperança essa mobilização do governo, do Legislativo -em que tramita um projeto que altera a Lei Pelé em pontos importantes e urgentes-, da CBF, do Clube dos 13, dos atletas e do mercado, em particular dos grandes grupos de comunicação interessados no futebol, que só trará benefícios para o país.

A Copa do Mundo de 2014 não poderá passar pelo Brasil sem deixar nenhum legado para os clubes. \ Precisamos tirar uma lição do que aconteceu nos Jogos Panamericanos, cujo legado foram arenas, velódromos e outros equipamentos fechados e subutilizados, enquanto os clubes que formam e treinam atletas olímpicos continuam sem nenhum amparo ou melhorias nas suas instalações. \ A realização da Copa terá que fomentar as transformações necessárias no futebol brasileiro, para não continuarmos a ver os nossos craques saindo cada vez mais cedo do país. \