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Mengo meu dengo (parte 12) Luiz Hélio

Os Flanáticos da Nação e suas magníficas loucurasCapítulo II

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Os Flanáticos da Nação e suas magníficas loucuras

Capítulo II

Texto de Luiz Helio

O que é um Fla-Flu senão o mais primitivo espetáculo da terra? Afinal, "no dia da inauguração do paraíso, houve um Fla-Flu de portões abertos, e escorria gente pelas paredes", como genialmente registrou o dramaturgo Nelson Rodrigues. \ Ele estava lá, sem dúvida. E para que jamais fosse lançada nenhuma dúvida sobre quem levaria mais vantagem nesse duelo que “surgiu quarenta minutos antes do nada”, outro gênio – agora da música – deixou bem claro: “(o Flamengo) é o mais cotado nos Fla-Flus”. Lamartine Babo podia até não ser um confesso rubro-negro, mas assim como o “tricolor” Nelson, sua alma flamenga também o denunciou ao inspirar-lhe a letra do mais belo e famoso hino de sua autoria. Já o técnico Abel Braga, certa vez declarou que uma partida entre Flamengo e Vasco pode até despertar uma rivalidade mais acentuada, só que “um Fla-Flu é muito mais bonito de assistir”. Ele tem razão, pois geralmente, é um jogo de muitos gols, onde o acaso ou o “sobrenatural de Almeida” sempre marca presença, não importa se um time está em melhor momento que o outro. Dentre inúmeros, apenas para ilustrar, citarei dois exemplos recentes. Como esquecer aquele estranho, porém salvador, pênalti cobrado por Cássio em 2001 que culminou com a conquista de mais uma Guanabara e a arrancada para o quarto tri? E aquele biquinho de ponta de chuteira do também lateral Roger na saída de Cleber no estadual de 2004? E quanto à final de 95? Não sei, já apaguei da memória e não tenho interesse algum em relembrar o episódio. Deixemos para eles, os arco-íris tricolores, que têm muito menos o que comemorar.\ Todos sabem que é lugar-comum dizer que não há favorito no Fla-Flu. Contudo, há um fator diferencial no clássico, sim: a enigmática e envolvente nação rubro-negra. Aliás, em qualquer partida do Mengo no maracanã, seja contra quem for. Este ano, na segunda partida da final da Taça Guanabara contra o Madureira – o Fla havia perdido a primeira – o narrador Galvão Bueno, comovido com o espetáculo propiciado pela magnética antes, durante e após o jogo, declarou: “quando essa torcida abraça esse time, geralmente ele costuma ir longe. A história mostra isso”. Pois bem, o abraço começou a ser aberto no duelo contra o Náutico e certamente continuará a envolver o Mais Querido daqui por diante. É uma sinergia que nasce impulsionada pela raça do time em campo (claro, quando ela aparece) e que ganha proporções fenomenais através da nação nas arquibancadas e na frente dos milhões de televisores espalhados pelos bares, restaurantes, hotéis e lares de todo o Brasil.\ Parabéns, nação rubro-negra do maraca! Em vossos calorosos braços o Flamengo se torna imbatível.\ Que torcida é essa? Essa é a torcida do Flamengo. Simplesmente a maior e a melhor.\

O Colecionador de Macaé

O Colecionador é o camisa 10 da torcida de Macaé\ Foto:Arquivo/Paulo Tinoco\

O publicitário Paulo Renato Medeiros Tinoco tem 43 anos e reside em Macaé, no estado do Rio, onde é casado, tem uma filha e trabalha com propaganda. Começou a acompanhar os jogos do Flamengo em 1977, ouvindo pelo rádio as vitórias do Mais Querido nas extraordinárias e vibrantes narrações de Jorge Cury e, posteriormente, de José Carlos Araújo. Segundo ele, mesmo quando as coisas não iam muito bem, as ondas da Rádio Nacional conseguiam lhe extasiar ao captarem o arrepiante grito de meeeengôôô, que ecoava direto do maracanã para todo o Brasil. “Esse era imbatível e sempre foi meu grande orgulho como torcedor, de fazer parte dessa verdadeira festa. Nenhuma fase ruim a sobrepujava”, relembra Paulo.\ Irreverente, esse flamenguista de Macaé disse que adora fazer gozação com os colegas de trabalho, ou melhor, com os arco-íris. Sempre que o Mengo triunfa, ele envia telegramas, diplomas, certidões de óbito e cartas sacaneando os tristonhos companheiros de labuta. Mas Paulo Tinoco avisa que é da paz e nunca discutiu ou brigou com nenhum adversário por causa de futebol. “A irreverência tem mais a ver com a nossa alegria flamenguista do que qualquer tipo de confusão, não é mesmo?”. Contemporiza. Quando o Fla conquistou o tetra campeonato em 87, a “vitima” da vez foi um pobre vascaíno que trabalhava com ele. “Durante mais de uma semana fiz o bacalhau enlouquecer de raiva ao ir descobrindo recortes de jornais escondidos pelo escritório”. E não é só no ambiente de trabalho que a traquinagem rubro-negra corre solta. Como todo feliz flamenguista, Paulo também adora mostrar ao mundo o famoso orgulho de fazer parte da maior e mais vibrante nação. Tem volta olímpica do Fla no maraca? Então a festa se estende pelas ruas da “Cidade do Petróleo” com um com carro de som invadindo o centro comercial tocando o hino, gols e músicas rubro-negras o dia todo.\ Algum tempo depois, Tinoco começou a projetar sua paixão colecionando materiais sobre o clube, como revistas, jornais, livros e pôsteres. Nada de mais que qualquer outro torcedor não dispunha, não é? Acontece que o diferencial do seu imenso e rico acervo está mesmo é na pesquisa e catalogação de músicas sobre o Flamengo, nas quais a organizada lista registra mais de 160 composições, tanto de homenagens quanto de citação. Inclusive, uma parte dessa preciosa pesquisa já foi divulgada nesta coluna, na matéria: Uma Paixão que também arde na arte - Flamengo bom de bola e de samba.\ A justificativa para o seu empenho em manter sempre aceso esse sentimento de grandiosidade despertado pelo clube da Gávea e não deixar apagar da memória do torcedor o seu passado de glória, não poderia ser mais nobre: “Se o Flamengo é o gigante que vemos hoje, que arrebata multidões, é porque houve um início lá atrás. Os fundadores, os atletas, os ídolos e os nossos grandes nomes do passado merecem reverência eterna do próprio CRF e de todos os flamenguistas”. Tudo indica que o seu sonho e de outros milhões de “irmãos de fé” em breve poderá ser realizado através do Projeto “Memorial Rubro-Negro”, que está sendo trabalhado pela atual administração.\

Além dos vários títulos que comemorou, um fato em si marcou para sempre a vida do publicitário. Foi durante o seu casamento, realizado em 1992, no “Flamengo Futebol Clube”, de Macaé. “No fim da festa, várias pessoas da minha família entraram no salão do clube com minha bandeira (de 4,00 x 2,50 cm) e vestidos com camisas do Flamengo, feitas em papel crepom. Não consegui resistir e chorei”. Sem dúvida, mais uma forte emoção vivida por esse grande rubro-negro, conhecido como o Colecionador de Macaé.

Na próxima semana: Os Flanáticos da Nação e suas magníficas loucuras – capítulo III: Edilberto de Teresina - por um Fla Forte; Um flamenguista belga que é e fala Flamengo, literalmente. SRN e até lá, se Deus quiser!\ Blog Letras embriagadas: heliopoeta.blogspot.com\