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O inesquecível adeus de Julio Cesar

Foi especial, rubro-negro e o fim que o ídolo merecia

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A despedida de Julio Cesar não começou quando amanheceu. Não, esse momento foi iniciado lá em 29 de janeiro de 2018, quando ele disse que voltaria para ser feliz. Foi exatamente o que fez. Foi feliz em cada minuto que pôde. Nos fez feliz em cada segundo que esteve em campo com o Manto Sagrado mais uma vez. Pela última vez.

O último ato começou às 17h26, quando o ônibus rubro-negro estacionou no portão 2 do Maracanã. Julio olhou atento para cada detalhe, cada rosto, cada espaço que passou desde o minuto que desceu e pisou no palco da partida. Foi difícil encontrar uma pessoa que não estivesse lutando para segurar as lágrimas olhando os passos de um ídolo.

18h15. Hora do aquecimento e de reencontros. Para o goleiro, o momento marcou não apenas as diversas homenagens recebidas, mas também a primeira vez que, após muitos anos distante, ele voltou a pisar no gramado do Maraca como jogador do Flamengo. Julio não sabia direito para que lado olhar. A Nação cantava alto e forte por ele. “Fica, Julio Cesar”. Um abraço em cada um dos outros atletas e da comissão. Algumas tentativas frustadas de impedir que as lágrimas se formassem. Espiadas rápidas para não perder a atenção. É foco total, é dia de jogo.

Do segundo que terminou o discurso emocionado na beira do gramado até o momento que voltou ao campo para, finalmente, iniciar os 90 minutos finais, ele só soube sorrir. Se concentrou, disse tudo que precisava ao resto do time e agradeceu. Foram várias etapas regadas por uma emoção que jamais encontrará uma forma de ser descrita, nem por ele e nem por qualquer um que estava presente no estádio.

Bola rolando. Julio encarava o jogo concentrado. Vez ou outra, seu olhar se perdeu espiando rapidamente a Nação. Ele sabia que seria sua última chance. Os ouvidos atentos não deixavam escapar nenhum um minuto, nem uma reação sequer. O camisa 12 fez exatamente o que disse que faria: viveu o fim como deve ser vivido. Cada chance fazia o goleiro se agitar. A primeira grande defesa veio seguida por uma série de abraços em cada companheiro. Julio falava, corrigia, gritava e aconselhava, mas não deixava nunca de enaltecer cada acerto. Ele não tirava os olhos da bola.

Vinte e oito minutos. Lá na frente, Henrique Dourado marca. Do outro lado do campo, os braços se abrem sem saber para onde correr. Sua vontade era se jogar no mar rubro-negro que se formou atrás dele. Então ele foi. Julio Cesar cruzou a área e comemorou com cada centímetro de seu corpo ao vibrar junto à Nação. Pouco depois, aos trinta e cinco, pênalti. A torcida chamou seu nome e fez um sorriso sem graça surgir em seu rosto. O goleiro pensou, mas preferiu ficar em sua área para assistir a grande cobrança de Dourado. Quando a bola balançou a rede, o 12 correu e pulou nos braços de César. A velha e a nova geração do Mais Querido. O banco inteiro abraçou junto.

Os quarenta e cinco minutos finais começavam e com eles vieram o início do fim de sua despedida. E Julio cumpriu cada etapa do protocolo. Falou - e muito. Fez o que todo líder nato faz, sabendo exatamente quando, como e o que dizer. Fez defesas absurdas, incríveis e que tinham a cara do grande goleiro que foi do princípio ao encerramento de sua história. Lamentou cada oportunidade perdida. Caiu no campo sentindo cãibras e ouviu a torcida pedir, mais uma vez, para que ele ficasse. Sorriu sabendo que, infelizmente, não dava mais. Abraçou inúmeras vezes outros jogadores para agradecer pela dedicação que marcou a noite deste sábado.

Ao som do apito final, ele desabou. Fez o que quis e como quis. Olhou para a Nação e bateu no escudo que defendeu pela última vez. Cumprimentou um por um. Deu a volta pelo estádio que o fez feliz repetidas vezes ao longo dos anos. O agradecimento a quem jamais terá palavras suficientes para agradecê-lo. A contemplação ao maior patrimônio do clube que o fez crescer. Julio Cesar agradeceu cada setor, bateu no peito e mostrou que seu dia havia chegado ao fim, mas seu amor jamais terminaria. Ao ajoelhar-se na frente do setor norte e da Nação Rubro-Negra, ele ovacionou quem mudou sua história para sempre.

O coração de Julio pulsa Flamengo e pulsa por cada alma dos mais de 40 milhões que amam o Manto com tudo que tem. Fica, Julio Cesar. Fique em nossos corações, em nossa memória, em nosso para sempre. Fique eternizado na história do maior clube do mundo. Fique apenas mais alguns minutos para que possamos te dizer um último “muito obrigado” por cada uma de suas defesas. Só fique. Ao Julio Cesar, o Julio do Mengão. Ao nosso camisa 1, 12 e qualquer uma que venha a usar. A você, ídolo, nosso eterno amor e respeito. Nosso eterno agradecimento. Vamos, Julio Cesar! Vamos, Flamengo.