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A nova filosofia das categorias de base do basquete rubro-negro

Confira os esclarecimentos do vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, Alexandre Póvoa

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Rio, 03/09/2015

Caros amigos,

O basquetebol do Flamengo iniciou a sua participação em mais uma Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB). A competição constitui-se em excelente iniciativa da Liga Nacional de Basquete, possibilitando que jovens de idade inferior a 22 anos disputem anualmente um torneio de alto nível de âmbito nacional. Cada time disputará um mínimo de 23 e um máximo de 28 partidas. O Flamengo, em quatro edições, é o maior vencedor da competição, com duas conquistas (2011/12 e 2013/14), um vice-campeonato (2014/15) e um terceiro lugar (2012/13).

Muitos devem ter estranhado o fato de, na atual quinta edição, o Flamengo só ter vencido dois dos 11 primeiros jogos, participação completamente incompatível com o histórico relatado. Dei algumas entrevistas sobre o assunto, mas a quantidade de questionamentos me levou a escrever esse texto.

O principal objetivo das categorias de base, em qualquer esporte, é a formação de atletas de alto nível para o clube. Para isso, o sucesso de uma categoria de base não pode ser medido pelo número de títulos conquistados por equipes sub-9, sub-11, 15, 17, 20 ou 22. Esse é um erro fatal que contamina a carreira de muitos técnicos dessa faixa etária, sobretudo em clubes "de camisa", onde a pressão por títulos é constante.

Essa visão de curto prazo não era diferente no basquete do Flamengo. Ganhamos muita coisa em campeonatos estaduais e também dois títulos máximos nacionais (LDB) nos últimos anos. Mas aí vem a pergunta básica: quantos jogadores conseguimos formar para, efetivamente, participarem do time profissional do Flamengo? Infelizmente, praticamente nenhum. As poucas exceções confirmam a regra. Evidentemente, esse era um quadro muito aquém do que avaliamos como razoável para um trabalho de categoria de base de um clube campeão do mundo de basquete.

No começo do ano, em comum acordo entre diretoria e o corpo técnico, decidimos colocar em prática um conjunto de ações para mudar essa situação:

A – Total prioridade na formação de jogadores. Evidentemente, o Flamengo quer ganhar todos os campeonatos na categoria de base, mas esse não é o foco: Decidimos, na LDB, ao invés de escalar os melhores jogadores naquele momento, priorizar os atletas, independentemente de idade,  que realmente tenham potencial de se tornarem jogadores profissionais a médio e longo prazos. Dando um exemplo fictício, no novo conceito formador da categoria de base, é preferível escalar para um jogo da LDB um pivô de 2,05m de 16 anos (talvez ainda imaturo) do que privilegiar a conquista do campeonato com um pivô "experiente" de 22 anos e 1,90m, com baixo potencial para seguir a carreira adiante. Com isso, tomamos a iniciativa de dispensar jogadores e, na LDB (torneio sub-22), dos 18 jogadores que jogaram as duas primeiras fases, 15 atletas possuem 19 anos ou menos. A média de idade da nossa equipe é uma das mais baixas de todos os torneios – 18 anos apenas. Pela primeira vez depois de muito tempo, o Flamengo possui quatro atletas convocados para a Seleção Brasileira sub-17 e que, obviamente, dentro da nova filosofia, participam ativamente desse grupo da LDB.

B – Espaço para os atletas sub-22 na equipe profissional:  De nada adianta reestruturarmos o trabalho da base se o clube não tiver a filosofia de abrir espaço para os jogadores sub-22 de destaque formados em casa. Nesse sentido, dos 16 jogadores que treinam na equipe profissional, nossa ideia é que um número aproximado entre seis e oito atletas seja oriundo desse segmento, para mostrar que há espaço para a busca desse sonho.

C – Busca de atletas de talento no mercado: Para acelerar esse processo de reestruturação das categorias de base, temos que, concomitantemente, buscar atletas de bom nível no mercado, de qualquer idade, mas sempre dentro da filosofia hiperseletiva de que os mesmos terão potencial, a médio e longo prazos, para se tornarem jogadores. Para isso, temos que investir na melhora das condições de infraestrutura para receber atletas de outros estados (escola, moradia, alimentação, etc...). O Flamengo tem que ser enxergado, tanto pelos atletas da casa como pelo mercado, como um clube que oferece condições de desenvolvimento e espaço para participação em uma equipe adulta sempre de alto nível.

Enfim, esse texto não é para justificar derrotas, até porque o compromisso da camisa do Flamengo, em qualquer tempo ou espaço, será sempre com a vitória. Não estamos satisfeitos com esse início de competição. Apesar de sabermos que estamos jogando o torneio com uma equipe bem mais jovem, temos a convicção que esses garotos podem dar mais ao Flamengo, mesmo hoje. Estamos cobrando isso, até porque esse tipo de pressão e experiência também fazem parte da formação do atleta. De forma alguma esse novo modelo pode servir de muleta para nos acostumarmos a perder, o que também irá mostrar muito do "caráter" (do ponto de vista esportivo) dos atletas do futuro e técnicos do presente.

Há momentos na gestão de qualquer negócio em que é imperiosa a tomada de atitudes corajosas e radicais para mudar a nossa história. É inconcebível sermos um clube "Campeão de Tudo" no basquete e, paradoxalmente, não formarmos atletas de alto nível na base. Começamos a mudar esse caminho e o preço duro que estamos pagando no curto prazo será a semente para o sucesso desse projeto, cujos frutos serão colhidos nos próximos anos. Reforçando, tudo o que está acontecendo foi planificado por profissionais de alto nível – José Neto, Marcelo Vido, Rodrigo Silva, André Guimarães e Paulo Chupeta – e tem o total respaldo e apoio dessa Vice-Presidência, que vislumbra a implantação dessa filosofia em todos os esportes olímpicos do C.R. Flamengo.
 
Saudações rubro-negras,
 
Alexandre Póvoa
Vice-Presidente de Esportes Olímpicos