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Pesquisa Datafolha revela diferenças entre torcedores

Índice da cidade que abriga Corinthians, São Paulo e Palmeiras fica abaixo da média nacional, de 21%, e distante de Rio e Salvador EDUARDO OHATAPAULO COBOSFolha de São Paulo

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Paulistano é quem menos vai ao estádio

Pesquisa Datafolha revela que apenas 15% dos torcedores da capital de SP dizem torcer por seu time das arquibancadas

Índice da cidade que abriga Corinthians, São Paulo e Palmeiras fica abaixo da média nacional, de 21%, e distante de Rio e Salvador

EDUARDO OHATA

PAULO COBOS

Folha de São Paulo

Assistir a um jogo de futebol no estádio não é um programa típico do torcedor paulistano.

Pesquisa nacional do Datafolha, realizada no final de novembro, mostra os moradores da cidade como os menos dispostos a torcer por seu clube nas

arquibancadas.

Só 15% dos entrevistados na capital paulista disseram ir aos estádios, mesmo sendo só de vez em quando. Esse número fica razoavelmente abaixo da média

nacional (21%) e distante da registrada por cariocas (27%) e soteropolitanos (28%).

O Datafolha ouviu 11.786 pessoas em 390 municípios de 25 Estados. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Na questão do hábito dos torcedores de ir ao estádio ou acompanhar os jogos pela TV, uma resposta não exclui a outra.

E quem puxa o desprezo dos paulistanos é justamente o corintiano, tido como "o mais fiel dos torcedores".

Só 23% dos seguidores do clube alvinegro afirmam que têm o costume de freqüentar estádios, contra 24% dos são-paulinos, 25% dos palmeirenses e 26% dos santistas.

Comparado com o que acontece com grandes de outros Estados, a apatia paulistana pelas arenas de futebol fica ainda mais evidente. No Rio de Janeiro, 30% dos flamenguistas apontam um campo de futebol como programa. No Nordeste, 36% dos seguidores do Bahia expressam a mesma opinião.

O resultado da pesquisa encontra respaldo na bilheteria nos Brasileiros do ano passado. Tanto o Flamengo, na primeira divisão do campeonato, como o Bahia, na terceira, registraram média de cerca de 40 mil torcedores por partida. O grande paulistano que mais se aproximou disso foi o São Paulo, com 29 mil pagantes por confronto. O Corinthians computou 20 mil fãs por jogo.

Times do RJ conquistam mais espaço fora da sede do que rivais

Rio Grande do Sul é o Estado que mais registra fidelidade com clubes locais

DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisa do Datafolha de novembro último confirma que os grandes clubes cariocas são mais populares do que os paulistas em outros Estados. E revela

também que os moradores do RJ são mais fiéis aos clubes da casa do que os de SP.

Entre os entrevistados no RJ, 80% dizem torcer por Flamengo, Vasco, Botafogo ou Fluminense. Em SP, a preferência somada por Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos alcança a marca de 70%.

Nas dez unidades da República tabuladas pelo Datafolha no assunto, somente no RS a fidelidade aos principais clubes locais é maior do que a registrada no RJ -84% dos gaúchos dizem ser seguidores do Grêmio ou do Internacional, ambos sediados na capital, Porto Alegre.

Em nenhum outro Estado as agremiações locais respondem por mais de 50% das preferências. Em Minas Gerais, 47% dos entrevistados apontaram o Atlético-MG ou o Cruzeiro como time de sua preferência.

No Nordeste, em alguns casos é mínima a participação dos times da casa na popularidade entre os torcedores.

No Ceará, por exemplo, somente 16% dizem torcer por uma das duas potências do Estado (Fortaleza e Ceará).

E, nesses casos, os corações desses brasileiros pendem mais para os clubes cariocas do que para as equipes paulistas.

No Distrito Federal, 48% dos entrevistados indicaram uma agremiação do Rio como a preferida. Os times paulistas ficaram com apenas 19%.

Na Bahia, são 30% os seguidores do quarteto de grandes cariocas -os quatro grandes de SP detêm 18% da preferência.

Vantagem grande a favor dos paulistas somente no vizinho PR, onde o Corinthians é o time mais popular (15%) e os times de São Paulo somam 38% das preferências, contra apenas 7% das agremiações cariocas.

Para os clubes paulistas, serve de consolo o fato de que dois representantes do Estado (Corinthians e São Paulo) conseguem, cada um, ostentar 1% da preferência no RJ, enquanto o Flamengo é a única agremiação de lá a atingir a marca em solo paulista. (EO E PC)

CORINTIANOS DÃO EXPLICAÇÕES

O vice de marketing Luis Paulo Rosenberg invocou o volume da torcida do Corinthians ao ser indagado sobre o baixo percentual no estádio. ""Teríamos 50%

a mais, e até o dobro de outras torcidas, se a pesquisa trouxesse números absolutos. Há apreciadores e fãs. Para nós, corintianos, futebol é religião;

para eles, esporte." "É surpreendente. Mas há empate técnico: corintianos, 23%,e a torcida do time de maior quórum, 26%", diz Alexandre Husni, vice do

conselho.

Risco e falta de conforto jogam contra

DA REPORTAGEM LOCAL

Polícia Militar, TV, especialista em marketing e dirigente de clube são unânimes ao apontar razões que explicam a ausência do torcedor nos estádios: o

desconforto e o risco.

""Pelas nossas observações, quem vai ao estádio, em sua maioria, é o pessoal das classes D e E, que tem no futebol sua diversão e fica na geral e na

arquibancada", afirma o major Armando Tadeu Camargo, 43, comandante do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar, que chefia o policiamento nos estádios.

Ele diz ainda que outros fatores afastam o torcedor. ""Aumento no preço do ingresso, aliado à dificuldade de acesso aos estádios, já que muitos moram na zona leste, os desestimula. Há exceções, como os são-paulinos, público de dois tipos de jogos: clássicos e finais. E tem a questão da violência."

Elton Simões, diretor responsável pelos canais "pay-per-view" da Globosat, que exibe torneios nacionais, não crê que o maior número de jogos oferecidos pela TV influa no público nos estádios.

""Nossas pesquisas indicam que a maioria dos assinantes reside a mais de 100 km do local onde as partidas de seu clube são realizadas. Então, o "pay-per-view" serve a uma população que não poderia ir aos estádios", diz Simões. ""Violência, insegurança e falta de conservação e conforto inibem a ida do torcedor aos locais dos jogos."

Até dirigente de clube concorda que as condições das arenas e os serviços oferecidos nele não são ideais. "É questão de racionalidade [não ir ao estádio].

A pessoa tem o trabalho de comprar o ingresso, deslocar-se ao estádio, passar pela catraca, buscar seu assento. E o que encontra? Banheiros em más condições, perigo de brigas...", enumera o vice de marketing do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg.

Se a falta de público é encarada como problema, por uma outra ótica Marco Aurélio Klein, especialista em marketing esportivo e professor da Faculdade

Getúlio Vargas, vê um nicho de oportunidades.

""Pelos números do Datafolha, pouca gente vai ao estádio, porém muitos acompanham futebol pela TV. Isso significa que existe demanda reprimida por

futebol. Há excelentes oportunidades para o futebol, caso ele se organize e proporcione acessibilidade, qualidade e conforto."

""O futebol é hoje entretenimento. Se houver conforto, as pessoas irão aos estádios. Veja os cinemas: no passado, tapetes rasgados, iluminação e som ruins

afugentavam o público." (EO E PC)