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Flamengo inaugurou "Muros da Gávea" neste sábado, dia de seu aniversário

Exposição a céu aberto faz parte das comemorações pelos 130 anos

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No dia de seu aniversário de 130 anos o Flamengo inaugurou oficialmente neste sábado (15/11), a exposição a céu aberto “Muros da Gávea – Ser Flamengo”, que transforma os 274 metros do muro da sede social, na Rua Mário Ribeiro (Lagoa-Barra), em um grande painel de memória, identidade e cultura rubro-negra.

Idealizado pelo presidente Luiz Eduardo Baptista, o BAP, o projeto foi desenvolvido pelo Patrimônio Histórico do Flamengo, em colaboração com o coletivo Negro Muro, reunindo seis artistas convidados para reinterpretar ídolos, momentos e símbolos que marcaram gerações.

“Realizar essa exposição é uma maneira de compartilhar a nossa história, celebrar símbolos e tradições que moldaram o Flamengo e homenagear a Nação. É também uma forma de transformar o muro da Gávea em um espaço de memória e identidade, além de retribuir à cidade”, disse o presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap.

A intervenção, um exemplo marcante de arte urbana, expressa a mística e a paixão rubro-negra em diálogo direto com a cidade. Feita para ser vista, vivida e sentida no cotidiano, ela transforma a paisagem carioca e, mais uma vez, faz o Flamengo ultrapassar fronteiras — agora, as de sua própria casa. O clube passa a contar sua história em seus próprios muros, aberta a toda a população.

Entre as obras em destaque, está “Mística”, de Mateu Velasco, que traz o maior símbolo rubro-negro, o urubu, retratado em xilogravura. A força da torcida está representada no painel “Nação”, de Gugie Cavalcanti, que captura o fervor e a energia que conectam milhões de flamenguistas dentro e fora do Rio.

O mural “Ele vibra, ele é fibra”, do projeto NegroMuro, homenageia personalidades icônicas como Érica Lopes, a Gazela Negra, e Leônidas da Silva, o Diamante Negro, conectando o Flamengo à cultura popular por meio da dança e do funk. A obra também destaca o eterno rubro-negro Ary Barroso, compositor e locutor histórico.

Já “O manto e a fé rubro-negra”, de Dolores Esos, celebra a devoção da Nação, unindo o poder simbólico do Manto Sagrado à narração imortal de Apolinho no gol de Petkovic, e à fé que acompanha gerações de torcedores.

Na sequência, o artista Acme apresenta “Galinho de Quintino, Buck e a Maior do Mundo”, colocando Zico no centro da obra e homenageando também um dos grandes nomes do remo rubro-negro, Guilherme “Buck”. Bruno Big traz “O Alvorecer Magnético”, mural que celebra os 130 anos do clube, ressaltando a origem no remo, a coragem e os barcos com nomes indígenas que marcaram o início da trajetória rubro-negra.

Esse mural coletivo é, ao mesmo tempo, uma festa visual das glórias passadas e presentes e um testemunho da influência cultural do Flamengo no Brasil e no mundo.

Confira, em detalhes, cada parte da ação

1- Mateu Velasco 

Título: Mística 



Sobre o artista: Nascido em 1980, Mateu Velasco é formado em Desenho Industrial pela PUC-Rio desde 2003, é mestre em Design Gráfico pela mesma universidade. Desenhista desde pequeno, começou a trabalhar profissionalmente como ilustrador em 1999.

Expandiu sua atuação profissional pintando murais públicos no início dos anos 2000, desenvolvendo uma linguagem própria como artista visual, que pode ser encontrada em muros e galerias de São Paulo, Rio de Janeiro, Los Angeles, Nova York, Paris e Milão, entre outras cidades pelo mundo. 

Atualmente trabalha em seu estúdio como artista visual e ilustrador, e paralelamente pinta murais em grande escala para festivais e clientes particulares.

Os murais pintados pelo artista tiveram importância fundamental para evolução da arte urbana carioca, pois traziam um estilo próprio de ilustração que incluía a uma boa dose de design gráfico, – em cores, estilo e acabamento – evidenciando seu trabalho como um diálogo aberto entre Rua e Academia, gerando uma linguagem própria de pintura e desenho

Sobre a arte: A arte retrata um majestoso urubu, estilizado em xilografia, que se ergue de maneira imponente no centro da cena, fazendo referência à rica tradição da arte popular da xilogravura. 

Suas asas abertas são detalhadas com padrões que evocam as texturas da madeira entalhada. No plano de fundo, uma cobra coral desliza sinuosa, suas cores vibrantes de vermelho e preto lembrando o icônico uniforme do Flamengo, criando um contraste harmonioso com o urubu. Sutilmente ocultada entre as linhas da xilografia, uma pequena folha de arruda desponta, símbolo de sorte e proteção, representando a indomável fé do torcedor flamenguista no improvável, nas vitórias impossíveis que inflamam a paixão e o entusiasmo da Magnética.

"Ser Flamengo"

"De asas abertas o urubu abraça cada torcedor - da favela ao asfalto, do interior à beira-mar, de dentro e fora do Brasil.

Se impõe como o gigante que é: guardião da arquibancada, voa alto reivindicando o céu, pois sabe que o medo não veste o Manto.

Ícone da resistência, transformou provocação em orgulho. Ser Flamengo não é escolha, é vocação.

É ter coragem e alçar voo junto de uma Nação que não teme o impossível. É além do futebol. É cultura, identidade e paixão.

É libertação. Ser Flamengo é acreditar até o último segundo que o destino sorri em vermelho e preto. Porque o Flamengo não se explica.

Se sente.

Se carrega

Se celebra."

Mateu Velasco

2- Gugie Cavalcanti

Título: Nação
Sobre a artista: Gugie é artista visual brasileira, grafiteira, produtora cultural, mulher negra e mãe da Lia e da Cássia. Tem formação em bacharelado em Artes Visuais pelo Centro de Artes da UDESC. Atualmente vive no Rio de Janeiro retornando às raízes da sua família. Sua produção atravessa o mesmo caminho de sua vida, Arte e vida caminham juntas em sua pulsão criadora, compreende a criação como a própria possibilidade de existir. Gugie faz pinturas em tela, murais de grande escala e performances artísticas. As suas obras falam do amor entre as pessoas e como nos sensibilizamos para criar relações afetivas. Em seu Ateliê promove proposições de educação e cultura.

Sobre a arte: A arte muralista criada por Gugie é uma celebração da paixão dos torcedores do Flamengo, frequentemente referidos como a Nação. O mural, com suas cores vermelha e preta marcantes, captura a essência ardente e o espírito imortal da torcida que compõem a extensão emocional do time. A profusão de detalhes retrata a multidão como um mar que se move em uníssono, cada figura contribuindo para o grande retrato da Nação, compondo uma sinfonia visual que pulsa em sintonia com o coração do time.

No contexto do futebol mundial, a torcida do Flamengo transcende o comum ao ser não apenas uma massa de espectadores, mas uma entidade viva, quase mística por sua diversidade e alcance. É apelidada de Nação por inspirar e unir milhões em torno de uma paixão compartilhada, atravessando fronteiras geográficas e culturais. 

A Nação Rubro-Negra não é apenas uma extensão do time, mas uma força que frequentemente afeta diretamente o desempenho em campo, funcionando como um 12º jogador.

3- NegroMuro 

Título: Ele vibra, ele é fibra! 
Sobre o projeto: O NegroMuro foi criado pelo pesquisador e produtor Pedro Rajão e o artista Fernando Sawaya. O projeto se consolidou como um dos mais assíduos do país, transcendendo sua atuação artística nas ruas para outras plataformas como séries de televisão, livros didáticos, tema de pós graduação, palestras, webséries, além de atuação em sala de aula.

O muralismo atrelado ao conceito de cartografia da memória negra em série faz com que o projeto teça diversos diálogos pela cidade, gerando autoestima para a comunidade em que está inserida sua arte, além de aguçar a curiosidade e pertencimento ao território. Um projeto de arte e memória.

Sobre a arte: A arte inicia com a estética do grafite, com a dança, corpo em movimento e o funk como identidade carioca também transnacional. Somos o maior do mundo!

Ao lado do varal com as camisas hexacampeãs, surge Érica Lopes, a Gazela Negra, cantada a plenos pulmões pela torcida magnética, a velocista que corre sorrindo, recordista sul-americana, bronze pan-americana, campeã brasileira e estadual, uma representação feminina fortíssima no panteão rubro-negro.


Na sequência, Ary Barroso, um dos mais pitorescos flamenguistas com sua característica gaita e Leônidas da Silva, incomparável e o responsável por 'popularizar' a bicicleta, o Diamante Negro original que 'inspirou' o chocolate, artilheiro absoluto com carisma popular.

4- Dolores Esos

Título: O manto e a fé rubro-negra
Sobre a artista: Dolores Esos, artista visual e muralista, nascida em Niterói, estudou Artes Plásticas na UFRJ, formada em Cenografia pela UNIRIO. Suas artes já estiveram em exposições individuais e coletivas. Dolores teve telas indicadas a prêmios em território nacional e na Itália e EUA. Ela possui um estilo que passeia pelas artes clássicas até chegar ao grafitti e seus grandes murais. As causas sociais e a figura de mulheres fortes estão muito presentes em suas obras.

Sobre a arte: São temas centrais do mural: o Manto Sagrado e a narração histórica de Apolinho onde se ouve a emoção e devoção dos torcedores do Flamengo. A paixão e a mística. O orgulho e a crença na vitória.

Na parte esquerda podemos ver um close up no uniforme clássico e atemporal de um personagem em pose que remete, ao mesmo tempo, ao orgulho que os torcedores e jogadores do Flamengo carregam no peito ao apontar para o brasão coroado com a estrela do mundial. No mesmo contexto existe também uma exigência de respeito e reverência à história vitoriosa do clube por parte de quem vem de fora.

Ao fundo a estética é baseada graficamente em formas impactantes, direcionais, bicolores e bandeirões, inspirada nas artes de cartazes e vinhetas esportivas que remetem a embates, força e vitórias. A palavra manto vem por si só reforçar esse impacto que nossos uniformes transmitem ao longo de todos os anos.

Na parte direita podemos ver uma imagem de São Judas Tadeu, padroeiro do time em segundo plano, como quem protege.


De protagonista, em primeiro plano, o radinho de pilha simbolizando a narração épica de Apolinho, onde podemos ver uma parte da citação desta narração em aspas em que ele ilustra com as palavras a devoção (mística) quase em devaneio dos segundos antes do gol histórico do Pet em 2001, quando ele diz que até São Judas Tadeu entrou em campo neste momento para dar bençãos e sorte nesse momento crucial do jogo.

5- Acme

Título: Galinho de Quintino, Buck e a Maior do mundo
Sobre o artista: Ativista e autodidata, também conhecido como ‘’Mestre Acme” é conhecido internacionalmente por seu pioneirismo no grafitti carioca; marcado por seu estilo único e sempre inovador inspirado no seu universo tropical urbano. Atualmente o artista realiza além do grafitti, um trabalho genuíno de escultura com técnica upciclyng no qual aborda os conflitos do ser humano com o seu espírito.

Ao longo de sua trajetória, Acme realizou obras em diversos países e estados do Brasil, sua arte faz parte do acervo permanente do Museu Histórico Nacional, Museu do Folclore e Museu de Favela (RJ); primeiro museu territorial e vivo sobre memórias e patrimônio cultural de favela do mundo no qual é sócio fundador, idealizador e curador do Circuito das Casas-Tela; galeria a céu aberto com pinturas nas fachadas das casas dos moradores que retratam a história das favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. Idealizador da Biblioteca Ninho das Águias; que visa a cultura de acesso na favela; através da leitura e oficinas variadas

Sobre a arte: O mural é uma representação impressionante da essência e energia do trem, símbolo maior do torcedor carioca. Na obra, o trem se movimenta ao ritmo da cidade e de seu povo, com o vermelho simbolizando o sangue que dá vida às multidões. Acme captura de maneira vívida a psicologia imprevisível da multidão, canalizando tanto a agitação quanto a harmonia que reverberam do som de bateria da torcida. A arte homenageia a Charanga Rubro-Negra, a primeira torcida organizada do clube, liderada por Jayme de Carvalho, destacando seu papel pioneiro na história do futebol brasileiro.

Centralizado na composição, Zico, a maior lenda da história do Flamengo, aparece como um ponto focal que unifica a homenagem à torcida. Sua imagem traduz a paixão e devoção dos torcedores, considerados o bem maior do clube. A presença de Zico no mural simboliza tanto seu legado pessoal quanto a relação simbiótica entre os jogadores e a Nação Rubro-Negra. Esta obra de arte não apenas celebra o ícone, mas também ressalta o poder unificador e transcendental da torcida, realçando o espírito coletivo que faz do Flamengo algo muito maior do que um clube de futebol e regatas, e falando em regatas temos a imagem de Buck fechando o mural, técnico que revolucionou o remo no Flamengo.



6- Bruno Big
Título: O alvorecer magnético 
Sobre o artista: Bruno Carneiro Mosciaro, mais conhecido como Bruno Big, é um artista multidisciplinar nascido no Rio de Janeiro em 1980. Com uma identidade visual marcante, definida por linhas ousadas, gestos expressivos e cores vibrantes, seu trabalho carrega uma espontaneidade e uma profundidade emocional que o tornam imediatamente reconhecível.

Sua trajetória artística começou cedo e evoluiu de forma orgânica. Ao longo dos anos, Bruno explorou uma ampla variedade de técnicas e suportes — do grafite e murais em grande escala a pinturas em tela, ilustração digital, gravura e cenografia. Sua habilidade de transitar com fluidez entre a rua e o ateliê, entre o figurativo e o abstrato, lhe garantiu um lugar sólido na cena da arte contemporânea brasileira — e internacional.

Guiado pelo instinto e pelo fascínio pelo inesperado, Bruno desenvolveu uma linguagem visual única ao longo de anos de pesquisa e experimentação. Seus murais e obras já apareceram em diversas cidades ao redor do mundo — como Paris, Tóquio, Miami, Nova York, Amsterdã, São Paulo e Pequim — transformando paredes e espaços públicos em experiências visuais impactantes. Firme defensor do poder da arte como ferramenta de conexão, ele frequentemente cria em ambientes urbanos abertos, abraçando a energia e o ritmo das ruas.

De murais públicos — como o do alto da estação do bondinho do Pão de Açúcar, no Rio — a pinturas intimistas produzidas em ateliê, o trabalho de Bruno Big é sobre movimento — visual, emocional e social. Sua arte pulsa com vida, convidando o público a se conectar, refletir e sentir. 

É essa mistura de curiosidade, coragem e criatividade que o define — não apenas como artista, mas como uma força de expressão na cultura brasileira contemporânea.

Sobre a arte: O alvorecer do Clube de Regatas do Flamengo na Lagoa - explorando o amarelo como "quarta cor" e o alvorecer da República como pilar histórico fundamental do Flamengo: o clube (e não club) inicialmente ostentando tons nacionais, tem sua fundação registrada no mesmo dia da República Federativa: 15 de novembro, rejeitando símbolos e resquícios da monarquia, suas canoas são por obrigação estatutária batizadas com nomes indígenas.

Para celebrar os 130 anos do Clube de Regatas do Flamengo, a arte revisita o início de sua trajetória - o momento em que tudo começou. Antes dos gramados, das arquibancadas lotadas e das conquistas no futebol, o Flamengo nasceu nas águas da Baía de Guanabara, movido pela força, pela superação e pelo espírito de equipe de jovens apaixonados pelo remo.

O remo foi o primeiro esporte em que o clube se destacou, consolidando-se como símbolo de determinação e união. Era mais que uma modalidade: representava o desafio de vencer as marés e os limites humanos. Cada remada trazia o mesmo impulso que, mais tarde, guiaria o Flamengo em todas as suas vitórias - a busca incansável pela glória.

A proposta é homenagear essa origem heroica, destacando o Remo como o ponto de partida da identidade flamenguista - um clube que nasceu do mar, da coragem e do coletivo. Celebrar o Remo é relembrar que o Flamengo sempre foi mais do que um time: é uma história de paixão e tradição, que atravessa gerações.

Ficha técnica

Concepção e Realização: Equipes CRF – Patrimônio Histórico, Comunicação e Eventos.
Curadoria Artística: Marco André Tosatth e Pedro Rajão
Produção: Ponte Cultural, Pedro Rajão, Limento Gestão de Eventos e Fla Gávea.
Artistas: Mateu Velasco, Gugie Cavalcanti, NegroMuro, Dolores Esos, Acme e Bruno Big.