Notícias

Vice-presidente de finanças: "A regra do jogo é pagar as contas"

Na segunda parte da entrevista, Rodrigo Tostes conta detalhes da nova política rubro-negra

Por - em
Além das receitas, a recuperação da credibilidade rubro-negra tem permitido empréstimos para manter cada pagamento em dia. Somente com uma linha rígida para manter o fluxo de caixa, o mercado tem reconhecido a capacidade do Flamengo de pagar suas dívidas. Na segunda parte da entrevista (leia a primeira parte aqui e a terceira parte aqui), o vice-presidente de finanças Rodrigo Tostes falou sobre a nova política econômica do Flamengo. 

Na oportunidade, Rodrigo ressaltou a importância de se pagar as dívidas com a União para evitar penhoras de receitas, como ocorre com outras instituições, e ter acesso às leis de incentivo. A estimativa é de que em 2016 o clube não precise mais recorrer a empréstimos desde que mantenha a austeridade e crescimento de receitas. Confira mais um trecho da entrevista:

Se fala muito em Fluxo de caixa. Pode explicar o que é exatamente isso? 
Tostes: É dinheiro na conta. Qual foi o grande problema que encontramos no Flamengo? As penhoras. Tiram o dinheiro da conta, através de uma ação judicial que autoriza que entrem na conta ou em um contrato que você vai receber e evitar que isso entre no clube. Fluxo de caixa é algo que todos precisamos ter no nosso dia a dia: previsibilidade. É o planejamento. Não dá pra começar o mês sem saber quanto vou gastar, e o Flamengo não tinha isto, em função da quantidade de descumprimentos que o clube vinha fazendo, tanto do ponto de vista de fornecedores, quanto do ponto de vista fiscal. A instituição estava sujeita que a qualquer momento uma ação judicial, fosse por um fornecedor ou pelo governo, entrasse nas contas do Flamengo e tirasse o dinheiro. A regra do jogo hoje é pagar as contas e os salários em dia e ter dinheiro na conta. Essa é a importância do fluxo de caixa. Hoje sabemos com quanto começamos o mês, com quanto terminaremos o mês e quanto teremos no fim do ano.

Enquanto a maioria dos clubes aumenta a dívida, o Flamengo vem diminuindo. Quais as consequências disso?
Tostes: É importante dividir esse sucesso com as demais áreas do clube. Não se faz isso sozinho. A conscientização que houve dentro do corpo Flamengo – o que conseguimos passar para o futebol, esportes olímpicos e gávea – foi fundamental para conseguirmos arrecadar mais do que gastamos. Deveria ser normal dentro dos clubes, mas não é. O Flamengo conseguiu 750 milhões de reais em dívidas porque sempre gastou mais do que arrecadou. É simples isso. A lógica do futebol sempre foi aquilo, que popularmente se conhece como pedalada, onde se usa receitas futuras para cumprir seus compromissos. Hoje, se analisarmos a estrutura do ano fiscal do clube, se arrecada muito mais do que gasta. 

Neste ano de 2014 estamos caminhando para uma sobra de caixa de 60 milhões de reais. O que vai acontecer com esse dinheiro? Infelizmente não ficará em nossas contas. Vamos pagar impostos e dívidas atrasadas de negociações que foram feitas no passado. Obviamente nossa dívida é muito maior que nossa sobra, então ainda precisamos de empréstimos para pagar esses 750 milhões. Qual é o grande ponto que precisamos ressaltar? Essa dívida está diminuindo e vai acabar um dia, diferentemente daquilo que acontece não só no futebol carioca, mas no de todo o Brasil também.

Como estamos gastando menos que arrecadamos, nossa expectativa é que em 2016 essa sobra de caixa possa ficar nos cofres do Flamengo. A boa notícia é que essa lei de responsabilidade fiscal instaurada no clube já está dando resultado. Mostramos que apesar de diminuir o número de investimentos com o dinheiro privado, nós estamos conseguindo, através das CNDs, arrecadar 60 milhões de incentivo fiscal. Isso permite que invistamos em esportes olímpicos, na sede da Gávea. Ou seja, não tem muita mágica: é pagar as contas em dia, gastar menos do que se arrecada, cumprir compromissos e dar um passo de cada vez. Não dá para mudar uma realidade do dia para a noite.

Tem gente que diz: "Estão trocando a dívida pública pela privada"... Por que não funciona assim?
Tostes: É muito fácil de se entender. Não estamos trocando a dívida pública pela privada. Dinheiro é um só. Hoje uma coisa que o Flamengo tem e nunca teve, é crédito. Só consegue empréstimo quem tem esse crédito. E a gente só consegue pegar empréstimo porque estamos pagando nossas contas em dia. Infelizmente, pensando no dia a dia do trabalhador, o tamanho da dívida do cartão de crédito que o clube assumiu é muito maior do que o "salário" que recebemos. Então, temos de fazer empréstimos para pagar esse dia a dia.

O ponto é: se você recebe um valor e gasta menos, sua dívida está diminuindo. Hoje, o Flamengo tem dentro do quadro do clube a lei de responsabilidade fiscal aplicada, e todos os membros do conselho diretor e da diretoria estão cumprindo isso. Então, não existe troca de dívida. Hoje o Flamengo tem crédito, tem credibilidade. Senta com presidente, diretor de um banco, mostra o fluxo de caixa e consegue pegar empréstimo. Por quê? Porque paga as contas em dia. Porque tem uma receita e consegue mostrar que vai pagar dívida. Hoje a marca Flamengo vale muito mais do que valia anteriormente justamente porque cumprimos nossos compromissos.

Leia também:
Parte 1 - Vice-Presidente de finanças: "Arrecadamos mais do que gastamos"
Parte 3 - Rodrigo Tostes: "nosso legado é a credibilidade de volta"